quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Porque ele dói tanto,

escrito assim desse jeito, sem pronome possessivo nem carência de atenção. Alguns nascem de corpo feito para o amor, outros para a guerra, outros para a arte. Mas o seu corpo só fazia doer: suas costuras eram todas traumáticas e, seus ligamentos, ressequidos. Tentar tocá-lo quase sempre compunha uma tragédia - a sensação em si bastava para torturá-lo. A intensidade com que sentia os fatos da vida advinha não da natureza destes, mas da fraqueza do seu próprio ser, seu próprio sentir.

Já não mais podia acompanhá-lo, fosse em distimia ou em neurastenia. Cansou-se pois, como que contaminada pelo cansaço imperecível que ele irradiava. Se seu carinho e devoção não haviam sido suficientes para anuviar seu sofrimento pálido diante da obrigação de viver, então a dor de perdê-la novamente não seria nada além de mais um item banal em sua extensa coleção de desconfortos mortais.

Disse-lhe: então adeus, meu caro, meu ardor, meu ar e minha dor. Pois que também sou montanha e tenho em mim segredos que pretendo desvendar.


As dores que me pedes, as perdes em si mesmo:
Marinho e azul-sozinho, sem as graças que eu teço.