sexta-feira, 1 de agosto de 2014

O que mais te assusta em você?

Escrevo somente o que me agrada e, talvez, seja precisamente esse o meu erro: crer que esse arremedo estético possa exorcizar minhas trevas. Efetivamente, escrever não me apazigua; escrever empresta beleza à minha inquietação. Como se os demônios que dançassem de mãos dadas em círculo sob o luar das minhas obsessões subitamente não provocassem apenas temor, mas também uma espécie inebriante de satisfação. Pois que tenho profundo orgulho de meus vícios, e desejo preservá-los.

O que dizer do homem que vê lirismo em suas quedas mais pessoais, ao invés de constatar (e pretender sanar) sua própria tragédia? Sou contrário ao banimento dos leprosos, quero tê-los por perto, circulando no centro da sociedade; quero essa amálgama que traduza o esplendor de suas chagas roçando as vestimentas coloridas que cobrem e recobrem os indivíduos arrogantes da nobreza. Almejo este ponto de vista divino, onde todas as partes contribuem equanimamente para o todo, sem distinção – sem distinção! Nada é tão belo quanto o funcionamento, quanto o giro veloz de engrenagens bem apertadas e lubrificadas. É o eterno sonho da orquestra cujos intrumentos não fazem desafinar.

No fim das contas, trata-se de uma débil e infantil busca pelo que é belo. Não é minha intenção abrigar meus monstros por suas fagulhas divinas, seus papéis essenciais no grande panorama onde todos os elementos desempenham função indispensável; não, o que realmente desejo é apenas livrar-me deles e de seu vergonhoso desatino antiestético. Vê-se que minha jornada é falsa e vazia de propósitos.

O que mais te assusta em você?