quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Yellow

Na prática, é muito difícil não ser hipócrita.

Toda percepção é sujeita ao julgamento, ao corte que nossa consciência faz dos fatos e das coisas. Tudo é visto através de uma lente, como se de todo o cenário somente algumas cores fossem realmente visíveis; vemos aquilo que somos, isso somente, limitado assim. Difícil dizer se há uma impressão genuína, despida de preconceitos e de pré-conceitos.

Ah, mas não no sexo. Sem roupa eu sou capaz de ver quem você realmente é, indo muito além da metáfora. Sem roupa eu posso te tocar e sentir e provar da matéria que te compõe, do que você é feita de verdade. O prazer remove meu julgamento, e também os cortes. A cama é um santuário de imparcialidade, neutra, elísia, dona da liberdade de podermos ser o que de fato somos.

Problema é que é muito difícil não ser hipócrita. É quase impossível dizer, de cara limpa, que minha decisão de dormir contigo foi só pra te conhecer melhor, pra te ver por inteiro, sem lentes, sem óculos e sem nada - é impossível convencer alguém disso, principalmente quando não é verdade, não inteiramente. A verdade, a patética e leviana verdade, é essa: te fiz minha pra saber a cor da sua alma, pra descobrir como você devia parecer aos olhos de Deus, e me apaixonei na porra do processo. Já dizia Anthony Kiedis:


This is the way I wanted it to be with you
This is the way that I knew that it would be with you
Way upon the mountain where she died,
All I ever wanted was your life...


Até o dia em que você puder me perdoar, parece que esse será o meu pedido de adeus.