Escrevo somente o que me agrada e, talvez, seja precisamente esse o meu erro: crer que esse arremedo estético possa exorcizar minhas trevas. Efetivamente, escrever não me apazigua; escrever empresta beleza à minha inquietação. Como se os demônios que dançassem de mãos dadas em círculo sob o luar das minhas obsessões subitamente não provocassem apenas temor, mas também uma espécie inebriante de satisfação. Pois que tenho profundo orgulho de meus vícios, e desejo preservá-los.
O que dizer do homem que vê lirismo em suas quedas mais pessoais, ao invés de constatar (e pretender sanar) sua própria tragédia? Sou contrário ao banimento dos leprosos, quero tê-los por perto, circulando no centro da sociedade; quero essa amálgama que traduza o esplendor de suas chagas roçando as vestimentas coloridas que cobrem e recobrem os indivíduos arrogantes da nobreza. Almejo este ponto de vista divino, onde todas as partes contribuem equanimamente para o todo, sem distinção – sem distinção! Nada é tão belo quanto o funcionamento, quanto o giro veloz de engrenagens bem apertadas e lubrificadas. É o eterno sonho da orquestra cujos intrumentos não fazem desafinar.
No fim das contas, trata-se de uma débil e infantil busca pelo que é belo. Não é minha intenção abrigar meus monstros por suas fagulhas divinas, seus papéis essenciais no grande panorama onde todos os elementos desempenham função indispensável; não, o que realmente desejo é apenas livrar-me deles e de seu vergonhoso desatino antiestético. Vê-se que minha jornada é falsa e vazia de propósitos.
O que mais te assusta em você?
sexta-feira, 1 de agosto de 2014
sexta-feira, 25 de julho de 2014
Orquestra de milagres
Acordar
de forma destemida e então operar uma osquestra de milagres, hoje o
dia certamente será diferen... ah, mas que sono fodido.
Meu
ânimo se esvai em corte profundos e supurados de um tédio por tudo
imposto (o tédio é o imposto da vitória, ressaca da conquista).
Lembro-me da energia, contudo; lembro-me de um estado de espírito
despido de por quês, desnudando amplas extensões daquilo que não
era: aquilo que viria a ser.
Minto,
porém: é precisamente essa alma letárgica meu porto, minha casa de
plácida mobília indistinta, abandonada a definhar mais lentamente
que os estudiosos de seu definhamento. Sempre velha, sempre antiga e
tão igual.
Noto
o mundo com um olhar semicerrado de exaltada exaustão. Me canso em
mim e, miserável de apoios, me deito e aguardo pelo segundo cansaço,
cansaço conformado, desistente.
Durmo. Me lanço com
sofreguidão ao sono... para acordar de forma destemida e então
operar uma orquestra de milagres. Amanhã o dia certamente será
diferente.
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