Meu
ânimo se esvai em corte profundos e supurados de um tédio por tudo
imposto (o tédio é o imposto da vitória, ressaca da conquista).
Lembro-me da energia, contudo; lembro-me de um estado de espírito
despido de por quês, desnudando amplas extensões daquilo que não
era: aquilo que viria a ser.
Minto,
porém: é precisamente essa alma letárgica meu porto, minha casa de
plácida mobília indistinta, abandonada a definhar mais lentamente
que os estudiosos de seu definhamento. Sempre velha, sempre antiga e
tão igual.
Noto
o mundo com um olhar semicerrado de exaltada exaustão. Me canso em
mim e, miserável de apoios, me deito e aguardo pelo segundo cansaço,
cansaço conformado, desistente.
Durmo. Me lanço com
sofreguidão ao sono... para acordar de forma destemida e então
operar uma orquestra de milagres. Amanhã o dia certamente será
diferente.