terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

O filho do som

Sentou-se sobre o silêncio da tarde, num dos braços do sofá que tinha no quarto e, ajeitando o violão no colo, se pôs a sentir. E sentiu: alisou a madeira lisa com a ponta dos dedos, dedilhou uma das cordas graves, pressionou a caixa contra as pernas, sentiu a força frágil da madeira. Lá fora, as cigarras berravam um trinado absoluto, natural. Era a época mais quente do ano, quando o calor se desprendia do ar, do chão e da vida, fazendo com que por pouco o mundo inteiro não derretesse.

Concentrou-se, ainda no sofá, lembrando do que já haviam lhe dito: que descendia de músicas, de estórias, de lendas. Sabia que em suas veias corria o sangue que pulsara ao redor de fogueiras ciganas, que gritara em rituais africanos de umbanda, que se emocionara em celebrações de casamento sioux, que se prostituíra em festivais pagãos. Tudo nele, tudo dele era antigo, ancestral e melódico; era o encontro de todas as vozes humanas, de todos os ruídos do tempo.

2 comentários:

Anônimo disse...

hey!!
que onda? :P
hace mucho que no escribias nada
es muy bueno que ahora tengas tiempo nuvamente para hacerlo
cuidate

besos desde México :D

Anônimo disse...

Vc escreve muito bem, Heron. Deveria postar mais textos.

Beijos!