Tatuagens são feridas ornamentais.
Nenhuma tatuagem no meu corpo. Mas creio que houve uma época, muito distante de hoje, em que tive tatuagens, muitas delas, cobrindo a pele em várias direções.
Não eram tatuagens com desenhos frívolos, fúteis, dessas que as pessoas exibem hoje em dia com intenções igualmente frívolas e fúteis, espalhadas pelo corpo num ordenamento sem qualquer sentido. Não mesmo. As minhas se distinguiam por inúmeras razões.
Primeiro, o local da tatuagem obedecia à forma do corpo, respeitando a geometria delicada segundo a qual fomos criados.
Segundo, eram desenhos de símbolos profundos, por vezes complexos, às vezes incompreensíveis, que falavam, à sua maneira, sobre nossas origens neste mundo, sobre as origens desse próprio mundo, sobre os ossos e as entranhas dos deuses que emprestaram suas formas à terra.
Terceiro, só eram permitidas aos sacerdotes e, mesmo assim, somente àqueles capazes de suportar, até o fim de suas vidas, o peso de tantas verdades sobre a vida gravadas irreversivelmente e tão a fundo na própria carne.
Mas hoje, no meu corpo, não há nenhuma tatuagem definitiva. Já fiz várias, todas com caneta de tinta azul, que se apagavam no primeiro banho e abandonavam minha pela nua, limpa de memórias.
Tatuagem são feridas ornamentais que - como é comum às feridas - demarcam os limites de nossa própria estória.
PS: Este texto, é claro, concorre ao posto de texto mais nonsense que já escrevi.
terça-feira, 22 de dezembro de 2009
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3 comentários:
cada vez que entro a tu blog, me quedo de verdad muy contenta de leer lo que escribes, es muy bueno =)
muchos besos...
y de verdad muchas saudades también...
é que o que marca nem sempre está muito exposto.
Nosso livrocorpo, não é mesmo?
Escrevemos e apagamos tantas vezes...
Você escreve muito bem, isso não é novidade! :D
Um matemático poeta, affff...
Sou fã!
Beijos!
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