sábado, 20 de março de 2010

Rock irlandês pra me libertar


Não tinha nada pra dar certo, a não ser pela unânime promessa de que o espetáculo seria, de fato, um espetáculo.

Me espremi pelo congestionamento humano, abrindo caminho por entre vulgaridades gratuitas e outras nem tanto, entre rostos mais jovens e outros nem tanto, entre all stars puídos e outros nem tanto (o meu era puído, além de verde; ora, era Saint Patrick's Day!).

Esperamos. Na verdade, quase morremos de esperar. Mas o show começou, afinal.

Whisky in a Jar. Música, Piratas e Rum. Shipping Up to Boston. Cuitelinho(?!). Eruption! Dueling Banjos... meu, Dueling Banjos! Música celta com ritmo de baião, e acordeon, e flauta, e violino, e banjo, e guitarra, e bateria, e rabeca, e... e... doidera! Simplesmente sensacional.

Pausa de quinze minutos, tanto pra banda quanto pro meu pula-pula incessante e desatinado. Lá fora, no curral dos fumantes, ganhei um cigarro dum tal de Samuel (ou algo assim), que era um

- Baterista.

- Hmm. De qual banda?

- Da que tá tocando aqui hoje.

Naaaahhh! Muito, muito gente boa esse Samuel (ou algo assim) - que além de músico era também vagabundo por talento, mochileiro por profissão e bom de papo por prática, eu presumo. Ele me contou como era ter uma banda e ver as pessoas do palco, como era fazer música e, por isso mesmo, se divertir mais do que o próprio público. E pela primeira vez me dei conta de que, céus, como eu queria ter uma banda...

Recomeçou a ópera. Músicas ainda mais fantásticas, dancinhas ainda mais bacanas e meu pula-pula ainda mais ensandecido. O vocalista tocou uma gaita de fole - uma gaita de fole! -, que é indiscutivelmente o mais formidável entre os instrumentos formidáveis do mundo.

E por fim, coroando o fim do show com o autêntico espírito festivo dos celtas, uma garota da platéia demonstrou invejável perícia ao manejar e quebrar, no nariz de outra garota, uma nada civilizada garrafa de cerveja - e isso sabe-se deus por quê. Só me dei pelo acontecido quando alguém, em profundo desespero, apontou para o meu braço e exclamou "jesus cristo, olha todo esse sangue!". Felizmente, não era meu sangue. Infelizmente, sujou meu all star todo.

É portanto com alegria que afirmo: por uma noite, eu fui irlandês.

Um comentário:

Cissa disse...

a música é sempre a melhor catarse.